quinta-feira, março 24, 2005

Últimos minutos de vida de Francisco Ganzã...

Os últimos minutos de Francisco Ganzã, antes de ser assassinado pela mulher...

- Querido, achas que sou bonita?
- Eu não diria bonita, pois trata-se de um conceito adoptado pelas classes dominantes para classificar animais humanos dentro de padrões de beleza culturalmente preestabelecidos.
- Isso que dizer que sou feia?
- Cosmeticamente diferente é o termo mais adequado.
- Mas, tu ainda me amas?
- O amor é um sentimento inventado pela burguesia com intuito de subjugar os indivíduos a um único modo de pensar a sociedade, tirando-lhes a razão e o senso crítico.
- E depois?
- Depois, nutro por ti um sentimento de co-participação em interesses de ordem habitacional, económica e sexual.
- O quê? Quer dizer que tu só me queres como mulher-a-dias e prostituta?
- Não se diz mulher-a-dias e sim higienizadora ambiental. E tratar parceiras sexuais alugadas como prostitutas não é politicamente correcto.
- Tu deves estar louco.
- Emocionalmente fora do padrão.
- Bem me avisaram que eras um chato.
- Chato não, pessoa interessante de maneira diferente.
- Como fui cega...
- Desprovida de capacidade visual é mais correcto.
- Não sei por que casei contigo!
- Desconheces o motivo que te levou a submeteres-te a uma institucionalização oficializante do relacionamento de co-habitação entre duas pessoas de sexo não coincidente.
- Idiota!
- Pessoa com ideia fixa.
- Para mim chega! Vou procurar um amante que me queira.
- Não precisas de recorrer a este tipo de relacionamento com padrão não convencional, nós ainda podemos partilhar de uma coexistência saudável como duas pessoas com referências diferenciadas da cultura dominante.
- Prefiro viver com um lavador de carros a continuar contigo!
- A tua preferência em manter uma co-habitação de carácter afectivo com um especialista em aparência de veículos, não te dá o direito de comparar opções de meio de sobrevivência alternativo com o meu comportamento que se diferencia dos dogmas do status-quo.
- Ah, por que é que não podes ser uma pessoa normal?
- A normalidade é uma convenção imposta.
- Chega, não aguento mais! Quero ver-te morto.
- O que tu desejas é transformar-me num indivíduo metabolicamente inviável.

Ela pega no revólver que o criado mudo está segurando, ou melhor: ela pega o revólver que o auxiliar doméstico oralmente prejudicado detém e atira no peito do marido. Ao vê-lo caído no chão, todo ensanguentado, ela abraça-o.

- Perdão, querido, eu sou uma burra!

No último suspiro, ele corrige:

- Pessoa com um enquadramento lógico muito particular.

3 comentários:

Miguel Araújo disse...

A minha parte preferida é a do criado-mudo...

Anónimo disse...

Beeeeemmmmmm.... deixem-me dizer.... TÁ D-E-M-A-I-S..... Genial?

Anónimo disse...

Eu não morri... isso é uma cabala dos capitalistas!

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