quarta-feira, janeiro 26, 2011

O meu país

Vivo num país onde surreal, é a palavra que melhor o caracteriza no momento em que escrevo.

Vivo num país, onde um criminoso confesso, tem uma família, amigos e uma freguesia inteira unidos num cordão humano para arranjar dinheiro para o "salvar". Desde quando se salva um assassino?

Vivo num país, onde metade dos cidadãos não vai votar sem que isso conte seja para o que for.
E onde os votos brancos e nulos, já nem aparecem nas estatísticas dos telejornais.

Vivo num país, com televisão por cabo na maioria dos lares, onde em noite de eleições, 4 canais (multiplicado por dois) passam a noite toda a dizer a mesma coisa e a mostrar a mesma coisa em simultâneo. 30 minutos tinha chegado.

Vivo num país onde um candidato assume desde o inicio da campanha que vai perder e que vai dar o seu apoio a outro candidato, sem nunca desistir. Num país onde outro legítimo candidato é gozado e alvo de chacota em entrevistas apesar de no final ter ficado com quase 4% dos votos.

Vivo num país onde muitos eleitores nem sabem onde votar. Num país onde a culpa é sempre dos computadores. Motivo que alguns usam para justificar a sua incapacidade de serem credíveis para o povo.

Vivo num país onde com um saco de dinheiro se compra: 2 submarinos que se avariam uma semana depois, enche-se uns quantos bolsos e ainda dá para pagar uns jantares a uns amigos.

Vivo num país onde tentar corromper a pessoa errada não é crime.

Vivo num país onde os políticos, governantes e afins, nunca viveram com um ordenado mínimo. Nunca sentiram na pele o trabalho precário, a possibilidade de serem despedidos. Nunca estiveram na difícil de decisão de comprar um brinquedo que o filho lhes pediu ou poupar para pagar a conta da água.

Vivo num país com pouco mais de 50% dos lares com ligação ao saneamento básico. Mas o mesmo país que tem disponível praticamente para todas as famílias Internet de banda larga.

Vivo num país onde, se apontar o dedo às coisas erradas, sou chamado de pessimista e poeta da desgraça. Se não faço nada, acusam-me de nada fazer pelo país. Precisamente daqueles a quem o dinheiro nunca lhes faltou. Acusar, expôr e contestar não é o primeiro passo para se fazer algo?

Vivo num país com paisagens lindíssimas. Património único no planeta. Recursos inesgotaveis e que fazem a montra de vídeos de propaganda turística, para inglês ver. Isso, é tudo fantástico, se não fosse o grande mal deste país, estar cheio de portugueses.

0 comentários:

SiteMeter

 
Copyright © 2010 Grupo de Jograis Universitários do Minho - Jogralhos. All rights reserved.
Blogger Template by
Licença Creative Commons
Jogralhos by Jogralhos is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivs 3.0 Unported License.
Based on a work at jogralhos.blogspot.com.
Permissions beyond the scope of this license may be available at http://jogralhos.blogspot.com/.