Algures num "pasquim" universitário, alguém com uma lábia prosaica, derreteu em algumas linhas uma opinião negativa sobre a participação dos Grupos Académicos da UM no "Cultiva-te", um sarau de recepção aos caloiros da UM.
Por entre inúmeras injustiças, arrogância e agressividade apresentada, surge o seguinte:
"(...)Ah, Jograis: meninos, não têm piada, não merecem um microfone, quanto mais quatro.(...)"
Para ver o conteúdo completo da narrativa, clique aqui.
Coube (não o legume) ao nosso membro que possuiu o dicionário de adjectivos mais actualizado e também o único que consegue escrever sem utilizar os 'K' e os 'X' uma resposta em jeito de Carta Aberta, que diz o seguinte:
"Ora bem,
Meu caro Hugo Torres, teria V.Excª noção da polémica que iria gerar? Com certeza que no fim de escrever o texto, ao fazer a revisão, pôr as vírgulas e assentos e essas coisas que ultrapassam o comum dos mortais sem o vasto rol de experiência cultural e artística que V.Excª possui, teria de ter consciência que iria originar reacções intensas e apaixonadas. Apaixonadas porque provêm de pessoas que têm paixão pelas suas actividades.Intensas porque a paixão é muita.
Mas penso que me estou a adiantar um bocadinho. Não quero ser acusado de anonimato e por isso, além de ter assinado este comentário, permita-me que o informe que sou membro dos Jogralhos, Grupo de Jograis da Universitários do Minho. Aqui cometeu o seu 1º erro, ao não ser capaz de pelo menos pesquisar o assunto do seu artigo. Mas garanto-lhe que não lhe levo a mal a falta de profissionalismo. O meu longo e vasto rol de experiência literária (também pessoal porque li milhares de livros, e tenho uma biblioteca com mais de dois mil títulos) já me deu a oportunidade de ler coisas bem piores.
Li algures aqui nos comentários uma comparação entre V.Excª e Miguel Esteves Cardoso, e permita-me descansa-lo. Leio MEC desde os tempos do Independente, continuando pelos seus livros fora, e posso-lhe garantir que a sua escrita é completamente diferente. Miguel escreve de forma inteligente e inteligível. É uma leitura agradável, muitas vezes irónica, e construída de forma que o comum dos mortais consegue entender mesmo que por vezes nem todos absorvam o âmago da ideia. Pode V.Excª dormir descansado que a sua escrita não padece dos mesmos males. Sugiro até que faça um favor ao MEC e lhe envie o seu dicionário de adjectivos que presumo seja uma edição revista e aumentada da que ele possui.
Agora que as minhas apresentações estão feitas deixe-me pedir-lhe perdão pela minha escrita. A minha formação é na área de Engenharia e é portanto natural que não tenha o dom natural que V.Excª demonstra. Não serei portanto capaz da riqueza estética, da complexidade estrutural, da capacidade adjectival e do puro virtuosismo que emana das suas teclas. Com certeza que será capaz de me perdoar.
É comummente bradado aos céus e anunciado aos ventos que em Portugal foi instituída uma democracia em 25 de Abril de 1974. É afirmado com orgulho que todos temos o direito de expressar as nossas opiniões se medo de sermos censurados ou castigados. E apesar de este governo se vir a esforçar para que tal passe a ser uma inverdade, continua a ser a minha convicção profunda que essa é a maior das vitórias da revolução dos cravos. Consequentemente o artigo de V.Excª é bem vindo, tal como o são o blog daquela moça que publicou agora um livro (http://atuaamiga.blogs.sapo.pt/) ou aqueles moços com cabeça rapada que removeram com certeza parte do cérebro com o cabelo (http://nazione88.blogspot.com/2007/04/portugal-hammerskins.html).
E tal como esses, são bem vindos não porque seja de um profundo interesse filosófico ou de um conteúdo crucialmente importante. São bem vindos porque demonstram que de facto existe liberdade de expressão em Portugal. E isso sim merece um Deo Gratias da nossa parte. O reverso da medalha é que teremos de suportar os maus blogs, as ideias surrerais e os artigos de opinião disparatados. Na minha mais que modesta opinião é um preço mais que aceitável. Aliás, a liberdade de expressão não tem preço. Além disso, graças a ela podemos depois opinar sobre as opiniões e comentar os comentários.
Já aqui li que teve V.Excª a coragem ou ousadia de pegar num tema polémico. Não me parece que seja necessária muita coragem ou demasiada ousadia para escrever sobre os grupos académicos. Não estando eles nem acima nem abaixo de ninguém não percebo porque teriam de ser afastados das críticas ou dos elogios. E a polémica foi criada pelo artigo, não pelos grupos.
A verdade é que V.Excª discorreu sobre uma série de grupos que bem ou mal se apresentou perante a academia. E do âmago da sua verborreia retenho... nada. Não tento tido a oportunidade de estar presente, e após a leitura nada elucidativa do artigo de V.Excª fico a saber o mesmo que sabia antes. Não sei se os Jogralhos não tiveram piada porque tentaram contar anedotas (e falharam) ou leram um texto cujo conteúdo não era cómico. Não percebo se os microfones eram bons demais, ou se por outro lado o som não chegava em condições à audiência. Fico sem saber se o ritmo de leitura estava deslocado, se o timing das anedotas não foi o melhor ou se pura e simplesmente o texto não valia o papel onde foi impresso. Não sei se a Afonsina interpretou Zé Malhoa ou Mozart. Se as vozes estavam fracas ou os instrumentistas a dormir. Se na Azeituna o pandeireta era uma nódoa ou o bandeira atingiu alguém por acidente. Se acha a Gatuna simpática porque foi assediado por uma delas (Deus me livre e guarde de alguma das Gatunas acharem que isto é a sério) ou antipatiza com a Tunobebes porque recebeu um estalo quando tentava apalpar a solista. Se o TUM levou a cena "A Midnight Summer's Dream" ou declamou "Charneca em Flor" da Florbela Espanca. O Coro cantou "Avé Maria" de Schubert ou "Alibabá" das Doce. Como vê, após a leitura da sua brilhante peça fiquei como estava. Sem saber o que foi bom ou mau. Sei que tenho de parabenizar V.Excª por ter suportado estoicamente todo o espectáculo, pelo que soube a Afonsina foi a última a actuar e ter tido a capacidade de suportar tudo aquilo que descreveu só para no fim poder com justiça e conhecimento de causa criticar a terrível actuação merece desde já o meu aplauso.
Sei também, e corrija-me se estiver errado, que V.Excª do alto dos seus 23 anos, e com o LONGO e pessoal rol de experiências ligadas às artes, tem uma bagagem cultural ímpar que lhe fornece a autoridade moral de grupos com 18 anos de existência (Coro), 15 anos de existência (Jogralhos) ou os 14 anos da Azeituna só para citar alguns exemplos. Penso até que era fundamental disponibilizar esse seu dom aos ingénuos organizadores de eventos por esse país e mundo fora que continuam a cair na asneira de formalizar convites a estes grupos, cometendo na sua inocência o pecado capital de proporcionar a público que continua ano após ano a acorrer a esses eventos as "vergonhosas, repelentes, repugnantes..." actuações desses grupos. Pela minha parte estou disponível para me unir a si nessa justificada e necessária cruzada. Porventura o meu contributo seria ínfimo quando comparado com aquele que a clarividência e objectividade de V.Excª pode fornecer. Mas peço encarecidamente que o considere. Seria pelo menos enriquecedor para mim culturalmente privar com uma figura tão destacada no nosso meio cultural e artístico.
E para melhor o podermos fazer, deixe-me já aqui e à revelia dos restantes membros dos Jogralhos disponibilizar o acesso ao historial do Grupo, aos prémios e menções recebidas, aos recortes de imprensa coleccionados, à listagem de actuações realizadas, aos convites em carteira, aos três livros publicados. Com um bocadinho de persuasão, estou convencido que até conseguiríamos chegar à fala com mais membros do Grupo e ficar a conhecer as dificuldades que possam existir, os seus méritos e virtudes. Os seus sucessos e insucessos. As memórias boas e más. Depois, munidos destas munições, poderíamos de uma maneira muito mais efectiva iniciar a nossa cruzada. Penso até que se quisermos ser metódicos conseguiríamos o mesmo junto de todos os outros grupos desta academia. Não será fácil, mas com a sua eloquência e brilhantismo seremos capazes de aliciar membros por esses grupos fora, transformando-os em fontes de informação e engrossando assim as fileiras do nosso exército.
Deixe-me terminar com uma opinião. Na minha opinião o senhor produziu uma peça fraca, estruturalmente mal concebida e esteticamente má. Ainda na minha opinião o senhor não produziu uma crítica nem um artigo de opinião já que não se deu ao trabalho de fundamentar nada do que escreveu. Na minha opinião o senhor queria dominar os adjectivos, mas acabou por ser dominado por eles. Na minha opinião a peça revela somente um ressentimento muito grande para com grupos académicos e praxes. Na minha opinião o senhor foi injusto, vazio de conteúdos, parco em ideias e farto em ambiguidades. Na minha opinião o senhor deve ter chumbado em algumas das cadeiras mais importantes do seu curso. Na minha opinião, o senhor teve uma produção infeliz, egocêntrica e particularmente rancorosa.
Mas claro, isto é só a minha opinião. E isto de opiniões é como as... quem as tem tem-nas e quem as quer dar dá-las.
Desde já daqui endereço o meu convite para que V.Excª se junte ao jantar de aniversário dos Jogaralhos. Teríamos um prazer enorme em ter tão distinta companhia e aproveitaríamos para corrigir em 1ª mão o aspectos que V.Excª considerar falhas ou menos conseguidos da nossa actuação. Afinal a crítica eleva o artista..." por Luís Vieira
quinta-feira, outubro 11, 2007
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13 comentários:
PARABÉNS PIRATA!
Isto sim, é um artigo de opinião. :)
Com jeitinho ainda te convida para comentares umas quantas peças de teatro.
Mais umas "coisas" destas e podes dizer que tens uma longo vivência cultural... pelo menos o comentário é longo... (eu sei, o "cronista detentor dos padrões de qualidade" não vai gostar deste trocadilho... mas é isso que um trocadilho é... temos pena...)
Gostei, "menino" Luís Vieira.
O direito de resposta pode ser exercido directamente junto do jornal.
Basta enviar um e-mail com a resposta e invocar expressamente esse direito.
O pasquim universitário aguarda.
Já lá estava nos comentários....
Snr Pedro, suponho pelo toque final de dor que pertence aos quadros da publicação em causa. Se tivesse tido o cuidado de ler os comentários à peça que foi publicada veria facilmente que este texto se encontra lá, embora dividido em 3 partes por falta de espaço. Pelo comentário que fez tenho de deduzir que não o fez, o que em conjunto com o seu remate final carregado de dor indica que fazendo parte da publicação, e legitimamente preocupado em a defender, não deu a devida atenção ao que por lá se escreve. Entendo que não sendo o Snr um profissional haja ainda pormenores que lhe escapem mas para isso é que a vida serve: para nos ensinar. Seja como for, ninguém neste Blog teve a intenção de denegrir a imagem da publicação. O termo pasquim foi usado como referência cómica, da mesma maneira que com certeza não acredita que sou único que é capaz de escrever sem "k" e "x", como aliás está mais que provado neste Blog e nos comentários deixados no seu jornal online.
tilt (Luís Vieira, presumo?),
O Direito de Resposta permite aos Jograis utilizarem o próprio espaço de publicação do jornal para dizerem de sua justiça.
O jornal é obrigado a publicar a resposta em espaço visível e directamente acessível (o que não acontece com uma caixa de comentários que já estará até relegada para o arquivo da categoria 'opinião').
Assim, o Direito de Resposta não foi exercido. E por isso é que propus a sua utilização.
Numa coisa, contudo, concordo consigo: a vida serve para nos ensinar. Espero que este comentário também tenha dado o seu contributo para a instrução do Luís.
Vivendo e aprendendo. Não o sabia e por isso agradeço. Mas não me parece que o assunto mereça mais que um comentário. Extenso é certo, mas só um comentário.
Pois menino Pedro,
Tens razão (vamos tratar por tu, porque somos da mesma estirpe), mas o que é mais importante na deontologia do jornalista/jornais que tanto defendes: o espaço de opinião/direito de resposta ou o insulto, a agressividade patente em quem a transmite??
Quem é agressivo perde toda e qualquer razão. Quem não sabe comunicar, não é entendido pelos outros.
Ninguém aqui repele pessoas que não gostam de nós, ou do que nós fazemos. Se não gostam, apenas gostamos que não nos incomodem, que nós também não lhes retribuímos (a não ser que nos sugiram algo para mudar).
Ao apresentarem opiniões que não demonstram o "chá" necessário para se estar por cá, passam a ofender. E piora, quando aquilo que fazemos é por "carolice".
Percebam uma coisa de uma vez por todas! Vocês podem (e até devem porque isso é sinal que estão interessados e há dinâmica académica) criticar, dar opinião e se possível sugerir, recomendar, etc. Mas nunca OFENDAM os outros.
O que o Hugo fez foi baixo demais para ser ignorado (por muita razão que possa ter sobre as actuações). Nós próprios temos por lema a crítica e a sátira e, que me lembre, nunca fomos agressivos e insultuosos com ninguém que estivesse próximo.
Imagina se amanhã, vamos para os jornais dizer que tu, ao dar uma opinião sobre o TGV, és um indivíduo repelente e indizível só porque não concordas com o traçado (nem sei se concordas ou não...não interessa). Entendes?
Houve de facto comentários em defesa dos Grupos e contra o Hugo que não concordamos (temos consciência que a nossa "vida" não é fácil). Mas não entendemos o corporativismo que mantêm e a forma como se agarram e se defendem uns aos outros com unhas e dentes. Se a opinião é do Hugo, ele que dialogue com quem o critica, não precisa de defensores... ou não fosse ele a "alma" desse vosso projecto.
Por essa razão os Jogralhos preferiram apresentar apenas uma resposta ao artigo. Claro que depois, não conseguimos ficar calados com tantas alarvidades ditas dos dois lados da barreira.
O que ressalva disto tudo, é que o Hugo conhece muito mal a vida dos Grupos Académicos, as suas dificuldades e factos. Por isso, sugerimos que se juntem a nós, num repasto qualquer, para vos transmitir aquilo que somos e o que já conseguimos em prol da Academia e nunca de forma pessoal.
Não sejam bichinhos do mato... não insultem. Saltem cá para fora e ajudem... não vos estamos a... repelir :D
Abraço Académico.
Caro Lucky Luke,
Aceito o repto, tratemo-nos por tu. Quanto ao resto, só cinco pontos.
1. Não vejo graus de importância. Há o direito há opinião e o direito à resposta. E há o direito a ter uma opinião bem formada, mal formada, ridícula, arguta, inteligente, ponderada, acutilante, simplista ou apenas pateta. A liberdade de expressão existe para defender o mau gosto, porque o bom gosto não precisa de defesa.
2. A agressividade que atribuis ao texto é da inteira responsabilidade do Hugo Torres e por ela apenas ele poderá responder. Por isso peço que não falem no plural*. O Comum não escreve textos do opinião: concede o espaço a quem o souber fazer. E só. Por favor, não confudam aquilo que é a opinião pessoal do Hugo Torres com a linha editorial do Comum.
3. A agressividade também vale para o sentido oposto. O texto do Luís Vieira é um texto de resposta agressivo, o que não me impediu de propor a sua publicação. Em primeiro lugar porque é um direito; em segundo porque é um bom texto. E não é a agressividade a determinar a correcção de uma opinião: uma opinião está certa ou errada independentemente do tom em que é formulada. O que não significa que esse tom não possa ser alvo de escrutínio, ainda que noutro âmbito.
4. Também não gosto de corporativismos. Mas, mais uma vez, peço que não generalizes. Alguns defenderam o Hugo Torres por laços pessoais, outros porque concordam e outros simplesmente porque querem chatear os grupos culturais. Há de tudo, mas o Comum não pode responder pelos comentadores. E eu só posso responder por mim. E, neste particular, nem defendi nem ataquei o texto do Hugo Torres.
5. Gostei da conversa. Foi mais civilizada do que a caixa de comentários. Só por isso já valeu a pena.
*(«Percebam uma coisa de uma vez por todas! Vocês podem e até devem porque isso é sinal que estão interessados e há dinâmica académica) criticar, dar opinião e se possível sugerir, recomendar, etc. Mas nunca OFENDAM os outros.»)
Um abraço (e desculpem lá o comentário longo)
Há o direito há opinião e o direito à resposta.
Ora vamos descobrir o erro.
Louro
Há o direito à opinião e há o direito à resposta, evidentemente.
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