Estou a brincar. Não precisam de parar o mundo. Nem sequer de o abrandar. Mas de facto o latim está de volta. Em muitos mais que um sentido. Vem isto a propósito de…? Perdes-te a cabeça por completo? Pois, eventualmente assim será. Acabo de ler uma crónica de opinião acerca de uma crónica de opinião sobre a qual demasiados opinaram.
Argutator = sofista, aquele que usa argumentos excessivamente inteligentes, Chico-esperto.
É a melhor maneira que tenho para descrever o nada que conheço do Hugo. Atenção que ele poderá ser uma pessoa fantástica, de uma simpatia extrema e com uma personalidade interessantíssima. Não o sei porque o não conheço. Aquilo que eu vejo dele é o que escreveu, mais concretamente duas crónicas que publicou no ComUM. Como tal é extremamente limitado o alcance desta crítica. Não sei se tive de fazer mais esforço a ler a 1ª ou a 2ª. Acontece que num caso como noutro a preponderância de adjectivos é avassaladora. Num caso como noutro resulta num texto pesado, difícil de ler, com um público-alvo muito limitado. Num caso como outro a estrutura é frágil, a linha condutora ténue, o obscurantismo muito, a erudição demasiada qual Nostradamus da nossa academia. Sendo ele estudante de Comunicação Social parece-me que falha na parte de comunicar para a sociedade. Se era um ensaio foi publicada no local errado. Se era uma crónica seria provavelmente bem recebida no Jornal de Letras. É aliás mais parecido com um discurso político, e eis aqui a 2ª vertente do latim ressuscitado. Fala, fala, fala e não diz nada que se entenda….Como eu claro. Tem portanto muito latim. Obviamente a 1ª vertente seria a frase em Latim com que terminou a crónica, isto para os mais exactos que não gostam e passaram para a 2ª sem conhecerem a 1ª.
Começou a crónica por afirmar que não poderia deixar de se referir à crónica anterior. E assim fez ao admitir que tinha sido violenta. E por aí se ficou. Não há mais nenhuma referência a ela. Há isso sim um recorrente capricho em escrever muito para dizer demasiado pouco. Uma tentativa de se envolver numa aura de erudição refugiando-se em citações. Paul Auster, escritor e realizador Norte-americano, também conhece Portugal, não sei se conhece o Hugo, e veio cá filmar um das suas obras, mais precisamente “The Inner Life of Martin Frost”. Veio porque era mais barato filmar cá, metade do preço segundo ele, e temos alguns locais relativamente parecidos com a Carolina do Norte. Mas até os sacos de papel teve de trazer de lá, que cá não há pelos vistos. Somos em tudo terceiro mundistas. Com sorte ainda teremos sido apanhados pela objectiva e seremos parte integrante da obra-prima desse ícone cultural. Mais citações haveriam com certeza para reforçar a sua ideia. Sua do Hugo e do meu amigo Paul. Uma das que gostava de partilhar com o Hugo e vocês, proveniente de um homem rude e pelo qual não nutro particular apreço, é:
“ Mais vale fala rapaz que cala-te rapaz.”O meu avô encarregou-se de a transmitir ao meu pai, que a passou a mim e que eu agora passo ao mundo. A mim custa-me seguir o conselho, mas tenho a alegria de verificar que não sou o único. A miséria sempre gostou de companhia.
A História está repleta de Austers, e Ghandis e Hitlers e Mussolinis e Einsteins e Guevaras e Lamas e Kants e uma lista de tantos, mas tantos outros que não sou capaz de a escrever. Por pura ignorância minha, por falta de dedicação à causa, por falta de erudição e por tudo mais que vós queirais. De atitudes extremas, de falácias, de erros grosseiros, de assunções perigosas, hipocrisias encapotadas e omissões imperdoáveis. De avanços e recuos. No fundo de tudo que enquanto espécie somos capazes, do melhor e do pior. A arte também, assim como a escrita. E de facto não é para todos. Se é só para os melhores….
Hergé era um artista, Pratt também. No entanto o meu filho de 7 anos consegue ler Tintin e não se perder muito, já Corto Maltese torna-se demasiado pesado para ele. Hugo Torres então é algo que para já ele não consegue passar da 1ª metade da 1ª frase. Vá, vamos ser honestos. O Hugo nunca escreveu a pensar que o meu filho o leria. Pensou que seria para os inovadores e progressistas académicos.
Mas agora que penso nisso a U.M. não é uma escola de Belas Artes. Mas conheço muitos engºs Civis, Informáticos e Industriais nos grupos académicos. Homens e mulheres que dedicaram o seu esforço académico a aprenderem e apreender o que lhes facultaram na universidade, indo muitas vezes mais além dessa fonte por nela notarem falhas ou ainda por pura sede de conhecimento. Capazes de pensar, perspectivar, avançar e muitas vezes com distinção. Capazes também de dançar um corridinho, tocar braguesa, acordeão e cantar Ave-maria. Mas não lhes consigo perdoar por não serem capazes de esquecer a sua vida profissional ou académica para se dedicarem exclusivamente a essa faceta artística e se excederem nas suas performances. Só porque almejam a ser engenheiros, químicos, físicos ou biólogos não quer dizer que se possam descuidar e ter tão medíocres prestações artísticas. Não sabeis cantar, calai-vos. O facto de não aparecer ninguém a cantar melhor que vós, não é desculpa. Não cantais bem? Tocais mal? Escreveis pior? Não o façais. Não, não insistam, se acabam todos os grupos menos aqueles que declamam Caeiros ou apresentam Steinbeck assim sejam. Tenhamos o orgulho suficiente de sermos entendidos e apreciados apenas pela notória minoria de iluminados. Por aqueles poucos predestinados que destrinçam significados escondidos em infindáveis caixas chinesas, tão subtis e elaborados, e simultaneamente claros e reveladores que pasma tornarem-se inatingíveis a alguns intelectos. Sejamos estandartes do dicionário, campeões da adjectivação, cruzados da essencial elaboração poética. Ou não.
Não vos vou dizer porque ainda sou Jogralho, isso são linhas para outro texto, que vos prometo para breve. Vou-vos dizer que não me considero artista, nem tão pouco escritor. Mas também vos digo que ainda penso continuar a sê-lo, apesar de só fazer o melhor que posso. Imperdoável, é certo. Mas ainda terão de nascer muitos Hugos para se juntarem todos e me levarem de lá pela força. E aproveitar para vos dar a melhor definição de arte que ouvi até hoje. Ouvi-a de uma bailarina, há muitos anos. Queria por força que eu fosse dançar com ela. E perante a justificação que dei – Não sei dançar – ela respondeu: claro que sabes. Pegou em mim, num leitor de cassetes (sou mesmo velho não sou?) e fomos para a praia. Pediu-me para fechar os olhos, ouvir a música, e depois deixar o corpo fazer o que queria. Quando acabou a música disse – “Vês como sabes….”. Obviamente não sei dançar, mas a ideia por trás da história é válida. Aquilo que fiz foi dança, nem boa nem má… só dança. Transponham isso para área que quiserem. Uma música cantada pela Azeituna, bem ou mal, é uma manifestação cultural. É Arte. De elevado nível? Não sei. Sei que não trocava uma noite de guitarradas na companhia do Dinga e do Lucas por dois dias de conversa com o Paul Auster. Sei que ter um poema meu, musicado pelo Xico, e ao mesmo tempo ilustrado pela Luísa (se por acaso leres isto Luísa, o teu desenho perdeu-se numa das mudanças. Dava meio mundo e um cavalo para o recuperar. Ou se me pudesses fazer outro….), e que teve o condão de trazer lágrimas aos olhos da Cila quando o ouviu vale mais que uma semana com Saramago. Sei que ter o Mário a cantar no meu casamento a mesma música que ouvi, da mesma voz, no dia que conhecia a mãe dos meus filhos vale mais que um bilhete vitalício para o Royal Carnegie Hall.
Sei que sou mais rico por ter estado e ainda estar no meio de tão maus e acéfalos artistas.
E eis aqui a 3ª e 4ª fase do latim renascido, qual Fénix brilhante. Perdemos o nosso latim, eu contigo, tu comigo."
por Tilt
1 comentários:
Estranho fenómeno este. Não consegui ler até ao fim texto que esta por base desta pequena maravilha. Não consegui le-lo até ao fim, porque é uma seca, não se compreende e perde-se o fio à meada. Não consigo le-lo nem quero. Por ser oco, por meter nojo e por não dizer nada. Talvez o problema seja meu, porque sou uma ignorante Matemática e vazia de palavras caras e textos repletos de nada. Mas este texto sim... mexeu tanto comigo que foi inevitável não aparecer uma lagrimita no canto do olho... foi inevitável desenhar a imagem de ti a danças na praia, à noite com uma bailarina bem mais velha, não estive lá mas quase consegui ouvir a musica replicada no dia do teu casamento... arrepiaste-me, tocaste-me na alma. Obrigada meu anjo, obrigada!
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