Sem o saber, a família e a sociedade vão formando delinquentes. A solidão e a correria, o predomínio do ter sobre o ser, a crença de que “o mundo é um brinquedo”, a difusão de referências éticas, o consumismo febril, o império das marcas... são alguns dos sinais do nosso tempo. E a escola é que paga. É que tem de salvar as famílias, regenerar a sociedade, tornar possível o laço social. Numa missão impossível e num processo de destruição psicológica dos professores. Também por isso é preciso acabar com o mito de “uma escola ao serviço da sociedade” e mobilizar a sociedade para estar ao serviço da escola. Eis as práticas eficazes de uma formação para a delinquência:
1) Comece desde a infância a dar ao seu filho tudo o que ele pede. Assim este crescerá convencido de que o mundo inteiro lhe pertence.
2) Não lhe dê qualquer educação moral. Espere que seja de maior idade para que possa decidir livremente.
3) Quando disser palavrões, ria-se. Isto animá-lo-á a fazer coisas ainda mais graciosas.
4) Não o confronte, não lhe diga que errou, que está mal algo que faz, pois poderia criar-lhe um complexo de culpa.
5) Apanhe tudo o que ele tiver espalhado: livros, sapatos, roupa, jogos... Assim, ele habituar-se-á a deixar os outros assumir as responsabilidades.
6) Deixe-o ler tudo o que lhe caia nas mãos e ver todos os programas que lhe apetecer. Tome cuidado para que os seus pratos, copos e talheres estejam bem esterilizados, mas deixe que a sua mente se encha de imundície, para que ele aprenda a considerar valioso aquilo que é lixo.
7) Discuta e brigue com o seu cônjuge na sua presença. Deste modo ele não se surpreenderá nem sofrerá demasiado quando a família se separar.
8) Dê-lhe todo o dinheiro que ele quiser gastar para que ele não suspeite que para dispor de dinheiro é preciso esforçar-se para trabalhar.
9) Satisfaça todos os seus desejos, apetites, comodidades e prazeres. O sacrifício e a austeridade poderiam frustrá-lo.
10) Ponha-se do seu lado em qualquer conflito que ele mantenha com os professores, vizinhos e amigos. Acredite que todos eles têm preconceitos contra o seu filho e, na verdade, só o querem prejudicar.
(in Correio da Educação, nº 245, 16 de Janeiro de 2006)
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